Recordar é Viver
Belisa Vaio
Recordar é Viver.
Nunca esqueci esta frase, inscrita na capa de um álbum de fotografias, que havia em casa dos meus avós.
Lá pelos anos 50, era eu bem pequenita, lembro-me de me sentar naquele bonito maple, forrado de um tecido de fundo grenat, com grandes ramagens de flores, e de que eu tanto gostava.
Pegava no álbum, que era um tesouro. Nas folhas de carlotina preta, encaixavam-se em "cantinhos ", pequenas fotografias, debruadas a branco e recortadas às ondinhas. Entre as tais folhas escuras, havia outras de seda, protetoras das imagens, e que também eram artísticas. As daquele álbum, tinham desenhados uns aranhiços, de que nunca me esqueci.
Eram fotos da família e de pessoas amigas.
Algumas chegavam do outro lado do mar. Angola, Moçambique e Brasil. Três dos quatro filhos da casa, tinham partido para lá. (ainda me lembro, quando a avó ia á varanda, no primeiro andar da casa, olhava para onde o sol se punha, e dizia que era para lá, que os filhos estavam...)
Não sei por onde as partilhas levaram essas fotografias. Com elas aprendi que havia mais mundos, para lá daquele que a minha pouca idade me mostrava. Com elas, acompanhei a família, as viagens, os tios e os primos que foram nascendo, os parentes mais velhos, de longe ou de perto.
Eram imagens de estórias de Vida que ilustravam as cartas que chegavam em envelopes de papel de seda, debruado ora a verde e vermelho ora a verde e amarelo.
Gosto de álbuns. Palpáveis.
Os outros, os digitais são tão diferentes...apesar de guardarem milhares de fotos... não têm o mesmo encanto.
Recordar é Viver...por isso receio que os meus netos, um dia, não revisitem as memórias que os álbuns nos trazem, porque, agora , todas as imagens acabam numa dita nuvem ...